2 de julho de 2011

Morapitiara

Todo dia eu morro

não resisto à facada faminta
que, na falta do alimento,
encontra o sangue

faleço porque tenho uma porção de crias,
mas me faltam os meios dignos

Todo dia a vergonha me mata

pois vivemos num quando
que culpa a barriga miserável

e ameniza o fracasso dos ninguéns
dividindo, em parcelas igualitárias, a culpa entre todos

nos coramos porque existem aqueles
que bebem trocados
para sobreviver de maneira alguma

Todo dia matamos

não engatilhando revolveres,
apontando canivetes
ou porque escolhemos os líderes errados,
que tomamos como nossos piores exemplos

matamos por termos ficado cegos há tempos
ofuscando as contradições sociais
que deixam de ser fonte dos males cotidianos,
e passam a significar pluralidade do ser humano

Todo dia nós morremos