14 de agosto de 2012

Sob o colar de pérolas

Entrou como saiu daquele bar: cabisbaixa, soterrada por maquiagem e com um sorriso engatilhado para a primeira pessoa que a percebesse. Já havia passado dos cinquenta. A julgar pelo lugar que frequentava, ainda mantinha acesa a esperança das décadas passadas.

Atravessou a multidão-apática – que parecia sentir euforia em proporção ao volume cada vez mais ensurdecedor da música – e se obrigou a sentar-se à mesa mais isolada do local. Ali fincou seu corpo por cinco, dez, doze, treze, dezesseis, dezoito, dezenove... Vinte minutos e, apesar do colar de pérolas imensas e do vestido que lhe apertava, não conseguiu atrair sequer um olhar distraído. Quando muito ganhou, foi um breve sorriso alheio, fruto de um gesto do acaso.

Enfim, levantou-se da cadeira e, em direção à saída do bar, cruzou despercebidamente as mesas repletas de pessoas – prontas para o atrito, estranhas ao contato –, enquanto carregava sobre os ombros aquele enorme colar de pérolas, meio século de vida marcado em seu rosto e sua solidão.