14 de setembro de 2013

Descionário - um esboço da loucura das palavras

(amparado em consultas ao material onírico de Barros e Naranjo)


Amigo (s. m.)

Pessoa que, em dias difíceis de ver o sol,

pinta o céu de azul clarinho;

Condição enferma não abundante e desmedida

que arruína as pessoas
e as torna eternas;

Pintor capaz de lapidar sentimentos

mais coloridos que arco-íris
em corações-de-pedra;


Capitalismo (s. m.)


Ecossistema onde os seres humanos

são menores que a Bolsa
e do que seus próprios bolsos;

Momento da humanidade em que as coisas caminham

se abraçam e respiram
e as pessoas nem;

Forma de reduzir mulheres e homens a utilidades

vide homem-bomba, mulher-de-negócios
homem-chave, primeira-dama etc.;


Solidariedade (s. f.)


Sentimento que engradece pessoas pequenas

e as torna não-maiores
nem menores do que as outras;

Mania de abordar gente como passarinho,

e achar que as pessoas ficam mais magníficas
quando de asas abertas;


Amor (s. m.)


Demência que acomete venturosos

faz primavera no asfalto
e neblina o fim da estrada;

Desastre natural que faz o ser humano

sentir-se parte do jardim do mundo;


Socialismo (s. m.)


Maneira desvariada do ser humano se tornar gente;


Semente de complicado germinar

que se agua com o suor de mulheres e homens
e já produz alegrias e frutos outros
antes de seu total desabrochar;


Sonho (s. m.)


Objeto abstrato que, assim como o horizonte,

quando se tenta tocá-lo
põe-se em perigo a (des)ordem das coisas;

Teimosia que faz as pessoas pensarem

que podem caminhar sobre as nuvens;


Abraço (s. m.)


Medicamento recomendado contra a melancolia

e os sintomas que dessa decorrem;

Item do gestuário humano

que mais aproxima, cordialmente, as pessoas;

Procedimento utilizado para deixar marcas na roupa

e no espírito alheio;