25 de novembro de 2014

Elogio à besteira

O desafio era ver quem fazia menos sentido na fala
tecer insensatez era algo estimado por aquelas crianças
fazíamos de conta que éramos doutores em desinteligência
(ou simplesmente esforçávamo-nos em parecer mais idiotas do que realmente éramos)
Diogo gostava de praticar a desgramática
corrigia os dizeres dos outros ao avesso:
“nós foi pular” ou “eu vamos correrem” eram coisas que lhes saiam da cachola
como preciosidades
Mais contido, Matheus não gostava de ofensas excessivas
se incomodava quando palavrões escorriam das bocas dos outros
mas caprichou na desrazão em reclame, revolto:
“tá com uma boquinha sujinha do caralho, né?”
a falta de nexo era o estandarte que os unia
ser abigobal era bem-quisto
eu apreciava obviedades ditas como se tudo
enriquecia a enciclopédia de besteiras com máximas ocas:
salientei com sapiência “a medida que a chuva aumenta, mais água cai”
“esperei 24 horas, mas pareceu um dia” me era motivo de orgulho
apequenado em altura, Victinho tinha grandura em bobagens
atlético, do tipo esquelético, chegou de rua à outra dizendo que
na partida de futebol,  dera uma bicicleta de cabeça
aquilo me trouxe ponderações
não sabia o que queria desdizer
se falava no sentido doador mental
ou se contava no desfigurativo sem chão
fiquei com a segunda