Há uma certa tradição eleitoral contemporânea muito curiosa. Da parte desta, reconhece-se que faz um longo tempo que os políticos, hereditariamente corruptos, são tudo farinha do mesmo saco. Entre os maiores concorrentes aos cargos representativos, não podemos fazer relevantes distinções políticas. Até onde percebo, é uma afirmação em sua maior parte, coerente e clara.
A política a qual estamos habituados a perceber é a política de eleições: diversas forças políticas se enfrentam numa arena por causas bastantes similares e com propostas parecidas para alcançar o maior número de cargos possíveis; a democracia em nossa sociedade parece resumir-se a uma mera escolha do representante que esvaziará nossos bolsos, do sujeito que nos oprimirá.
-Dentre todos eles, temos que escolher o menos pior - é a postura crítica máxima de um cidadão que reconhece a grave situação política em que nos encontramos, reconhecimento esse articulado a uma frustração que o faz se ver como incapaz de modificar as estruturas que propiciam a velha e desgraçada corrupção.
Desconhecem-se, ou são vendados os olhos para, alternativas que, de fato, poderiam nos apresentar melhores caminhos, mesmo que a longo prazo. O voto nulo – que discorda de todos os candidatos que estão concorrendo ao cargo político – ou uma proposta de frente da esquerda – uma articulação entre os vários grupos que apresente senão uma possível conquista de espaço político, que nos sirva para revelar aos que ainda acreditam que política formal no sistema capitalista não é nada além de capitalista, desmascarando as falsas noções que guardamos de democracia, algo que represente ao menos um maior alcance do que seria a proposta igualitária à população – , apoiados ambos numa luta popular, não são sequer consideradas por tal vertente eleitoral política.
-Não podemos exigir dos políticos algo que lhes falta, sendo assim, votaremos no menos pior.
E assim damos rumo ao nosso meio social: não queremos mais direitos trabalhistas e melhores salários para nossos conterrâneos, uma saúde pública que evite as enormes chacinas no cotidiano das filas dos hospitais, e uma educação que não se elitize, tornando o espaço acadêmico minimamente frequentado pelos que pouco, ou nada, possuem; apenas queremos o menos pior para as nossas vidas, nossa sociedade, nosso futuro.