27 de outubro de 2010

Raízes

São reluzentes os achados que resgatamos numa conversa com pessoas que fizeram parte de momentos longínquos de nossas vidas. Mesmo não estando perto do que se chama terceira idade, sempre me encontro assombrado quando, em um diálogo, iluminam-se momentos do ontem que minha mente extinta obscurece.

Fiz parte de um unido grupo na adolescência, eramos quatro. O que vivenciei com eles por alguns anos – em que conversávamos sobre nada como se fosse tudo que podíamos fazer – esforço-me em proteger no baú de minha memória.

Os encontros se tornaram escassos, a partir de quando passamos a sentir, sobre nossas peles, com maior intensidade o que a sociedade espera de nós. De quando em vez, em curtas, mas preciosas, conversas eles me ajudam a recordar do que passamos em companhia uns dos outros e, assim, desenham minhas raízes a cores.

17 de outubro de 2010

O menos pior

Há uma certa tradição eleitoral contemporânea muito curiosa. Da parte desta, reconhece-se que faz um longo tempo que os políticos, hereditariamente corruptos, são tudo farinha do mesmo saco. Entre os maiores concorrentes aos cargos representativos, não podemos fazer relevantes distinções políticas. Até onde percebo, é uma afirmação em sua maior parte, coerente e clara.

A política a qual estamos habituados a perceber é a política de eleições: diversas forças políticas se enfrentam numa arena por causas bastantes similares e com propostas parecidas para alcançar o maior número de cargos possíveis; a democracia em nossa sociedade parece resumir-se a uma mera escolha do representante que esvaziará nossos bolsos, do sujeito que nos oprimirá.

-Dentre todos eles, temos que escolher o menos pior - é a postura crítica máxima de um cidadão que reconhece a grave situação política em que nos encontramos, reconhecimento esse articulado a uma frustração que o faz se ver como incapaz de modificar as estruturas que propiciam a velha e desgraçada corrupção.

Desconhecem-se, ou são vendados os olhos para, alternativas que, de fato, poderiam nos apresentar melhores caminhos, mesmo que a longo prazo. O voto nulo – que discorda de todos os candidatos que estão concorrendo ao cargo político – ou uma proposta de frente da esquerda – uma articulação entre os vários grupos que apresente senão uma possível conquista de espaço político, que nos sirva para revelar aos que ainda acreditam que política formal no sistema capitalista não é nada além de capitalista, desmascarando as falsas noções que guardamos de democracia, algo que represente ao menos um maior alcance do que seria a proposta igualitária à população – , apoiados ambos numa luta popular, não são sequer consideradas por tal vertente eleitoral política.

-Não podemos exigir dos políticos algo que lhes falta, sendo assim, votaremos no menos pior.

E assim damos rumo ao nosso meio social: não queremos mais direitos trabalhistas e melhores salários para nossos conterrâneos, uma saúde pública que evite as enormes chacinas no cotidiano das filas dos hospitais, e uma educação que não se elitize, tornando o espaço acadêmico minimamente frequentado pelos que pouco, ou nada, possuem; apenas queremos o menos pior para as nossas vidas, nossa sociedade, nosso futuro.

5 de outubro de 2010

Atravessando os séculos

Os números destoam do que estamos acostumados.

Habituados a só enxergar três milênios para trás, muito pouco conhecemos ou procuramos saber sobre os milhares de anos que antecederam Cristo.

Li em certo livro que, embora não pudessem ser chamados de seres humanos, seres bípedes que nos eram inferiores na estatura e na capacidade de criar, a partir do que a natureza os proporcionava, garantiram sua sobrevivência. Uniram-se por vários anos, lutaram durante séculos e persistiram através de milênios que nos pesam nas costas.

Nas diversas situações que encontraram, com o uso das mais simples ferramentas de pedra, do fogo e da força coletiva, superaram obstáculos da natureza que pareciam intransponíveis. A fome lhes era imposta pela mãe natureza: temível, mas respeitável.

Hoje, o que nos amedronta não são as barreiras naturais. Embora essas ainda existam, não parecem ser onipotentes, frente aos avanços das ciências e das técnicas. O que nos assustam são as barreiras socioeconômicas. A fome nos é imposta pela natureza capitalista: assustadora, mas digna de desigualdades.