29 de agosto de 2014

Descionário II - palarvas se nutrem de céu

(regado por levezas de Larissa, Isaac e outros passarinhos)

Chorar (v. t. d.)
Estar cachoeira;

 
Coração (s. m.)
Cofre que armazena carinhos
vitalícios;

 
Dinheiro (s. m.)
Coisa feita para (des)gastar
a humanidade;
 
Unidade intercambiável que
quando em movimento
empobrece preciosidades;
 

Ilha (s. f.)
Pessoa continente
propensa a reclusão;
 
Aquele que rejeita a grandeza
do (re)mar;
 
Solidão consolidada num só;

 
Liberdade (s. f.) – I
Algo que não se tem
lago que só se sente;
 
Insistência em voar
sem asas;
 
Inadequação de gente
às grades e lajes
[como o dinheiro];
 
Modo de ser pleno
sem caber em planos;
 
Voar com capricho e sem interesse de ostentar
as plumas;
 
Raiar sem temer
as noites;

 
Liberdade (s. f.) – II
Devaneio inventado por passarinhos;
 
Desobjeto que amedronta cárceres
e inspira lagartas;
 
Motivo e consequência de todo ser
que se deseja passarinho;
 

Lua (s. f.)
Aquilo que proíbe
a plena escuridão da noite;
 
Ser astral excepcional
que ora sorri, ora está cheia
e ora se entristece por ser solidão;
 

Música (s. f.)
Poesia escrita a sons;
 
Dissonância rearranjada
por coração desatinado;
 
Batimentos cardíacos arranjados;
 
Ruído recorrente em grilos, riachos, sabiás
que, por vezes, transborda em bípedes;
 
 
Passarinho (s. m.)
Pessoa com inclinação para o azul;
 
Espécie tão mais necessária
quanto mais rareada;
 
Ser vivo com aptidão para poesia
e que se ornamenta em alturas;
 
Lar de horizontes;
 
Aquilo que engradece árvores;
 
Entidade anômala pela qual
se luta, se mata, se morre
e se nasce;
 
Indivíduo que, em livros de história,
escreve raios-de-sol;

 
Saudade (s. f.)
Encantamento que aproxima o longínquo;
 
Espasmo cerebral decorrente
de afagos à alma;
 
Quando se é Outono
sem cair folhas e flores;
 
Agasalho tecido por fios de doces memórias;

 
Solidão (s. f.)
Estar povoado pelo abandono;
 
Ter um deserto
dentro do peito;

 
Sorriso (s. m.)
Contração muscular mímica;
 
Orifício facial intermitente
derivado de carinho perene;
 
Néctar que alimenta passarinhos;
 
Vitamina recomendada contra a tristeza
e outras feridas;
 
Quando a alegria não cabe no corpo
e transborda pela boca;

 
Tempo (s. m.)
Aquilo que gira ponteiros;
 
Pandemia que enferruja seres inanimados
e (des)animados;
 
Mal que erradica bens
bem que extirpa males;
 

Verme (s. m.)
Trapo rastejante que as pessoas creem exaltar
quando praticam caridades;
 
Pessoa que é conhecida por ser nada
mas que se culpa por tudo;
 

Viver (v. i. e transitório)
Estar passarinho;
 
Beber goles de céu;
 
Decurso temporal
esporádico ou inexistente
no estar das pessoas
obs.: seu antônimo não é morrer, mas desviver;

Um comentário: